Eu assumi um grande risco esse ano.
Não foi o primeiro, mas é sempre como se fosse. Mesmo pra mim que já nasci com inclinação natural à aventura e temperamento atrevido - façanha essa que culminou no desassossego da minha (santa!) mãe -, tal proeza recente foi um grande all in em virtude de um grande talvez.
Mergulhei, saltei, e fiquei sem saber o que vinha depois.
E ainda não sei! No poker, all in significa apostar todas as fichas na mesa numa única jogada. Pode ser real com um flush na mão, um blefe quando não se tem nada. Independente das cartas, o ato do all in sempre carrega algo consigo: a disposição do jogador ao risco.
Ao arriscar, a recompensa esperada não é garantida - ela pode ser maior, ser uma perda; ser tudo, inclusive, nada. Mas há algo no risco. Algo da alma, que transforma o espírito para sempre, e eleva o humano a um patamar além de si mesmo.
Se você não arrisca nada, arrisca mais ainda. Erica Jong
Outra benesse do risco: a gente se sente vivo! E insone, óbvio. Porque, afinal, estar vivendo e respirando não é, nem de longe, sinônimo de sentir-se verdadeiramente vivo, ativo, pulsante. Viver é a coisa mais rara do mundo, afirmou Wilde, pois a maioria das pessoas apenas existe.
Seja no salto, seja no mergulho, o vento no rosto do risco, o calafrio no ventre do medo, deixam, por si só, uma recompensa aos atrevidos. Sua virtude adquirida é a coragem - o gosto íntimo e intransferível de servir-se da própria ousadia de ser.
O absurdo kafkiano é impossível a quem nada se atreve, enquanto é só um mero prefixo aos ousados de coração. O que difere um do outro é o tamanho de sua intenção.
"O homem cresce conforme a largura de suas intenções e míngua conforme a estreiteza delas. Deus inicia o homem, mas este tem de concluir a si mesmo."
Rev. Charles Parkhurts
Ousar é atrever-se a alargar a medida de suas intenções, é o all in no jogo da vida. Tal trecho me recorda outro do Antigo Testamento:
Deus vomitará os mornos.
Ele abriu o mar vermelho a Abraão, mas só depois que o discípulo decidiu atravessar. Parece que a vida é manhosa, os mares caprichosos, e ambos insistem em se abrir apenas aos atrevidos.
Creio genuinamente que Deus colocará o chão - isso é fé. Sei que, antes, porém, eu tenho que colocar o pé - isso é virtude, a coragem. Somando as duas a atitude resultante é o all in.
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Diante da díade Risco versus Recompensa, mil serão a favor e outros mil serão contra. Somente um coração disposto e atrevido não será atingido.
Se conquistarei ou não aquilo a que me atrevi, conto em meus relatos a seguir. Mas esse algo já me pertence no ato do risco: a virtude adquirida foi impressa em meu espírito.
Dentre os que cairão à esquerda e à direita, entre os frios e os inertes, uma certeza me foi concedida, em meio ao vazio do voo e à infinitude do mergulho:
Minha'lma jamais será morna porque meu coração só sabe ser ardente.
Por fim, era só pra declarar ao Cara Lá de Cima: Esse é o meu jeito, Deus, de concluir a mim mesma. All in! E não esquece, por favor, da Tua parte. Abre o mar porque eu decidi atravessar.
Até sempre,
Susan Duarte
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