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Fernando Pessoa

Foto do escritor: Susan DuarteSusan Duarte

Atualizado: 14 de fev. de 2023

Depois do meu avô Adolpho, juro, és o meu português favorito no mundo.


Teu aniversário é no dia de Santo António, padroeiro de Lisboa. Tenho cá comigo que divides esse posto com ele... Afinal, nós sabemos: o Chiado te pertence.

A caminhar pelo Chiado.
Fernando a caminhar pelo Chiado.

Quantos cafés tomamos juntos, eu e tu, no tempo em que vivi sob aquele céu lisboeta, para além de tão azul, meu céu de brigadeiro. Quantas queixas te fiz, quantas dúvidas te confessei, quantos conselhos busquei entre tuas páginas e tuas ruas no Chiado. Não me lembro do dia em que te conheci. Só sei que, na minha vida, tua presença lírica jamais faltou.


Tu que foste muitos em um só: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, teus heterônimos, e claro, como és complexo, um semi-heterônimo, Bernardo Soares, o mais parecido contigo em minha opinião.

"Na vasta colônia de nosso ser há gente de muitas espécies, pensando e sentindo diferentemente."


Em meus cansaços, quantas vezes tuas palavras recitei...

"Tenho um cansaço de mundos [...]

Tenho sono como um cão vadio."


Ainda criança, meu primeiro poema decorado e milhares de vezes recitado foi teu... "Ó mar salgado, quanto de teu sal são lágrimas de Portugal [...]."


Não há Natal que eu não procure pelo teu menino - o teu Jesus menino, que será, para sempre, o meu Jesus favorito.

"Ele tinha fugido do céu

Era nosso demais pra fingir-se de Segunda pessoa da Trindade

Um dia que Deus estava dormindo

E o Espírito Santo andava a voar

Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três [...]."

Farei meus filhos decorarem esse também.


Na idade do possível, ali pelos meus 16 anos, aprendi a sonhar contigo.

"Tenho em mim todos os sonhos do mundo." Passei a ter também.


Inclusive, aprendi a amar a Língua Portuguesa, de novo, contigo.

"A minha pátria é a língua portuguesa."


Até a paixão pelos livros partilhamos.

"A literatura é a melhor maneira de ignorar a vida." Hahaha


Por falar em paixão, bem, numa esquina qualquer ela acontece. Por causa tua, eu jamais censurei as cartas de amor. Pelo contrário, até escrevi uma, uma só, como as outras, tu sabes, ridícula.

"Cartas de amor são ridículas... Mas não são. Ridículos são aqueles que nunca escreveram cartas de amor, como as outras, ridículas [...]"


Num mundo cartesiano como o nosso, tu sabes, os intensos são crucificados. Comigo não foi diferente. Justo eu, a personificação da hipérbole, passei a apreciar minha natureza por conta tua.

"Cada momento mudei.

Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma."


Na difícil travessia de menina a mulher, enquanto as vozes dos tímidos de coração entoavam cultos sem fim ao medo, deste-me a minha coragem a partir da tua ousadia. "Tudo é ousado pra quem nada se atreve." Virou mantra pra mim.


Falam muito de tua poesia, mas o que dizer da tua prosa? No início dos meus 20 anos, tive a graça, que sorte a minha!, de encontrar-me, não contigo - culpa do descompasso de nossas épocas - mas com o teu Bernardo. Ali, descobri nos desassossegos dele o refúgio ideal para os meus.

"E porque este livro é absurdo, eu o amo; porque é inútil, eu o quero dar; e porque de nada serve querer t'o dar, eu, t'o dou..."

E seguia desassossegada pela vida com teu Bernardo em minhas mãos.


Nas crises, porque elas vieram, e tu sabes, delas ninguém escapa, ensinaste-me o recomeço, a esperança, com tua crível ferramenta - o desapego.

"Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, desapegue", menina, quase te ouvia dizer.


Durante a crise, no meio da tempestade, dizias-me para resistir e perseverar.

"Quem quer passar além da dor, tem que passar além do Bojador."

Pois a recompensa e a calmaria viriam.

"Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas é nele que espelhou o céu."


Já mulher, adulta, feita e em feitura, andante e errante, imperfeita por natureza e definição, encontrei em ti, outra vez, o rumo, o norte, no teu irônico, veja só, poema em linha reta - minha bússola para as curvas da vida.

"Todos príncipes na vida. Arre, estou farto de semideuses. Onde é que há gente nesse mundo?"


Pra cada crise existencial, afinal, elas não são nem de longe privilégio de Sartre, sempre as tuas palavras eu rememorava...

"Eu que me aguente com os comigos de mim." Serviu muito para as TPM's também.


Deixa eu te contar, no mundo contemporâneo, a procrastinação virou pecado. Pois é, mais um pra lista infinita da Patrulha da Coerência. Mas tu, sempre tu, farto de semideuses, deixaste um tratado de redenção em forma de poema - o meu adorável Adiamento.

"Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...

Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,

E assim será possível; mas hoje não...

Não, hoje nada; hoje não posso."


A distinção perfeita para vida e situação de vida, tão necessária à minha lucidez.

"Minha alma está cansada da minha vida."


E meio Sócrates, apesar do cansaço, lapidei contigo a arte de socratizar a vida.

"Temos todos uma vida que é vivida e outra vida que é pensada [...]."


Em meus cansaços, ainda hoje, sempre em ti eu penso...

"Estou cansado, é claro,

Porque, a certa altura a gente tem que estar cansado [...]."


E a vida?

Sou aprendiz tua nesta matéria para sempre, a revisar isso continuamente.

"Segue o teu destino, rega as tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias."


Valeu a pena?

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena."

E a tua seguirá guiando a minha, de tão gigante e eterna que é.

Fernando, meu querido, Pessoa: Obrigada!

Até sempre,

Susan Duarte

Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.

©Copyright 2022 Zeitgeist iD.

 

POOL DE REFERÊNCIAS

  1. O livro do desassossego. https://amzn.to/3OheR5S

  2. Obra poética. https://amzn.to/3OadPZ8

  3. O percurso em prosa. https://amzn.to/3xrPwPB

 

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