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Esquerda, direita, esquerda

Foto do escritor: Susan DuarteSusan Duarte

Atualizado: 18 de jul. de 2023

"Acho que estou perdido", disse um amigo, num tom quase confessional, declaradamente réu e culpado. Na fração de segundo seguida à interação das minhas percepção&intuição, a senciência tratou logo de responder:

Estás preso num erro semântico, não estás perdido. Só não sabes lidar com a neblina angustiante do momento de procura.

A verdade é manhosa, demora a revelar-se. Enquanto não é conhecida, é chamada de mistério. E não é simples lidar com mistérios. Sherlock Holmes que o diga! Elementar, meu caro Watson. Todo mistério é a tradução do oculto, daquilo que está encoberto, seja pela natureza complexa do fenômeno em si, seja pelo ser humano em suas ignorâncias, limitações, distorções.


Às vezes, a verdade se revela. Em outras, é preciso que um buscador nato se disponha, na alma, a procurá-la - até encontrar, até desvelar, até descobrir o que estava encoberto, e rasgar o véu de Maya.

Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e a quem bate, a porta será aberta.

Estar perdido é diferente de estar procurando. Nossa época, porém, abomina gerúndios, afinal, é neles que o processo acontece. E como ele acontece? Acontecendo. A obsessão é pelo resultado, pela solução. Ninguém mais parece apreciar a busca, a pesquisa, o momento da procura. A insanidade, pra mim, reside no fato de almejar uma resposta sem passar pelo desconforto da pergunta, incluindo, a busca pela pergunta certa que precede a resposta verdadeira.

Soldados jogando cartas, Fernand Léger.
Soldados jogando cartas, Fernand Léger.

Apressados, dizia a minha avó, comem cru. Em sua versão contemporânea, eles não concluem, apenas rasgam capítulos, registram no iPhone sem experienciar, chegam a última página do livro sem qualquer transformação durante a leitura, forçam o ponto de inflexão sem respeitar a maturação da mudança, desejam as respostas mas sequer sabem sentir o que valeria a pena questionar.


Quem está procurando não está perdido. Quem se perdeu, acredite, faz de tudo, menos buscar. Quem se perdeu, deixou de procurar, porque não se importa mais. O encontro - resultado da procura, a surpresa - efeito da busca, o aprendizado - consequência da pesquisa, não provocam faíscas tampouco cintilam aos olhos de um coração que desistiu porque se perdeu.


Nem sempre o caminho é doce. Num caminho doloroso, queira extrair dele o sumo de sua lição, a alquimia da transformação, a fim de não mais decair nos mesmos padrões, tropeçar em pedras conhecidas. Se for pra cair, que seja em virtude de pedras novas, erros diferentes, outros horizontes.

Doce caminho. Liu Kojima, 2017.
Doce caminho. Liu Kojima, 2017.

Quando não sei o que fazer não digo que estou perdida. Não. Estou procurando saber. E só por isso, pelo ato de me importar ao ponto de procurar e ao ápice de saber, eu sei que já encontrei o meu caminho.


Quando perdido ou perdida, lembre-se: a bússola é a procura; a intuição é a gênia da lâmpada; o coração, a direção da vontade.


Quem perdeu, não tenta mais. Quem busca, encontra. Quem procura, acha. Metafisicamente, acredito que aquilo que procuro também está procurando por mim. É na procura, no gerúndio, que a jornada acontece. Não queira terminá-la, encerrá-la. Queira vivê-la.

Qual caminho seguir?

Eu não sei, meu caro Watson. Dele, só conheço o modo: que seja autêntico, que seja meu, ditado no meu passo, trilhado à minha maneira.


Até sempre,

Susan Duarte

Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.

©Copyright 2023 Zeitgeist iD.

 

p.s: Para os perdidos na balada, aqueles que, porventura, desistiram de caminhar, faça este exercício: levante a bunda da cadeira e caminhe junto ao meu querido Captain, Ò my captain!

 

REFERÊNCIAS

  1. Obra Doce caminho, Liu Kojima.

  2. Evangelho de Mateus 7:8.

  3. Filme Sociedade dos poetas mortos.

 

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