"Acho que estou perdido", disse um amigo, num tom quase confessional, declaradamente réu e culpado. Na fração de segundo seguida à interação das minhas percepção&intuição, a senciência tratou logo de responder:
Estás preso num erro semântico, não estás perdido. Só não sabes lidar com a neblina angustiante do momento de procura.
A verdade é manhosa, demora a revelar-se. Enquanto não é conhecida, é chamada de mistério. E não é simples lidar com mistérios. Sherlock Holmes que o diga! Elementar, meu caro Watson. Todo mistério é a tradução do oculto, daquilo que está encoberto, seja pela natureza complexa do fenômeno em si, seja pelo ser humano em suas ignorâncias, limitações, distorções.
Às vezes, a verdade se revela. Em outras, é preciso que um buscador nato se disponha, na alma, a procurá-la - até encontrar, até desvelar, até descobrir o que estava encoberto, e rasgar o véu de Maya.
Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e a quem bate, a porta será aberta.
Estar perdido é diferente de estar procurando. Nossa época, porém, abomina gerúndios, afinal, é neles que o processo acontece. E como ele acontece? Acontecendo. A obsessão é pelo resultado, pela solução. Ninguém mais parece apreciar a busca, a pesquisa, o momento da procura. A insanidade, pra mim, reside no fato de almejar uma resposta sem passar pelo desconforto da pergunta, incluindo, a busca pela pergunta certa que precede a resposta verdadeira.
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Apressados, dizia a minha avó, comem cru. Em sua versão contemporânea, eles não concluem, apenas rasgam capítulos, registram no iPhone sem experienciar, chegam a última página do livro sem qualquer transformação durante a leitura, forçam o ponto de inflexão sem respeitar a maturação da mudança, desejam as respostas mas sequer sabem sentir o que valeria a pena questionar.
Quem está procurando não está perdido. Quem se perdeu, acredite, faz de tudo, menos buscar. Quem se perdeu, deixou de procurar, porque não se importa mais. O encontro - resultado da procura, a surpresa - efeito da busca, o aprendizado - consequência da pesquisa, não provocam faíscas tampouco cintilam aos olhos de um coração que desistiu porque se perdeu.
Nem sempre o caminho é doce. Num caminho doloroso, queira extrair dele o sumo de sua lição, a alquimia da transformação, a fim de não mais decair nos mesmos padrões, tropeçar em pedras conhecidas. Se for pra cair, que seja em virtude de pedras novas, erros diferentes, outros horizontes.

Quando não sei o que fazer não digo que estou perdida. Não. Estou procurando saber. E só por isso, pelo ato de me importar ao ponto de procurar e ao ápice de saber, eu sei que já encontrei o meu caminho.
Quando perdido ou perdida, lembre-se: a bússola é a procura; a intuição é a gênia da lâmpada; o coração, a direção da vontade.
Quem perdeu, não tenta mais. Quem busca, encontra. Quem procura, acha. Metafisicamente, acredito que aquilo que procuro também está procurando por mim. É na procura, no gerúndio, que a jornada acontece. Não queira terminá-la, encerrá-la. Queira vivê-la.
Qual caminho seguir?
Eu não sei, meu caro Watson. Dele, só conheço o modo: que seja autêntico, que seja meu, ditado no meu passo, trilhado à minha maneira.
Até sempre,
Susan Duarte
Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.
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p.s: Para os perdidos na balada, aqueles que, porventura, desistiram de caminhar, faça este exercício: levante a bunda da cadeira e caminhe junto ao meu querido Captain, Ò my captain!
REFERÊNCIAS
Obra Doce caminho, Liu Kojima.
Evangelho de Mateus 7:8.
Filme Sociedade dos poetas mortos.
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