Era uma vez o medo.
Um dia, ele bateu à porta. A Fé foi abrir. Não tinha ninguém. Martin Luther King.
Semana passada, o Medo bateu à minha porta. Diferente da Fé, pra mim, havia alguém ali. Abri a porta. Avistei alguém - gigante! Ele entrou e se instalou. E óbvio, caotizou, típico comportamento desse impostor travestido de falso eu, aliás.
A obra que personifica o meu medo é O grito de Munch. Conta-se que ele obteve inspiração após visitar a sua irmã num hospício, diagnosticada e - àquela época - condenada à depressão. Não é pra menos, afinal.

Sob várias aspas e imperícia confessa, o transtorno depressivo é o resultado do acúmulo de medo na psique. Depois de ver em sua irmã a personificação do Demônio do Meio-Dia, Edvard captou a essência do pavor, do grito emudecido em desespero, ante o combate inglório de quem busca derrotar um inimigo que reside no lugar mais covarde possível - dentro de si mesmo.
Matá-lo é matar a si e aos seus.
Que medo maior deve haver do que a supressão da vontade de viver? Na obra, há caminhantes tranquilos; há pessoas, ao fundo, em seus barcos. E ele, que mirou os olhos do Medo, isolado, apavorado, calado em seu grito - e só. Comumente, o Medo gosta de nos assombrar sozinhos. Na presença dos nossos, especialmente daqueles que nos amam, ele desaparece pianinho, intimidado, num retorno do recalcado à sombra do inconsciente.
Há quem diga que o contrário do amor é o ódio. Mas não é. O contrário do amor é o medo. Todo espectro de emoções humanas são variações derivadas de 2 notas: o Amor e o Medo. E enfatizo o paradigma: é justo quando mais amo que sinto mais medo.
Medo de quê, Susan?
Medo de viver, de não viver;
De amar, de não amar;
De chorar, de não chorar;
De existir, de não existir;
De trabalhar, de não trabalhar;
De doer, e não doer;
De sentir, e não mais sentir:
ora o Medo, ora o Amor.
Falando assim, parece um mero jogo de sintaxe. Quem me dera tudo isso fosse apenas uma quimera. O dragão do Medo, em si, é irreal. Seus efeitos, porém, ardem feito fogo mortífero enquanto corroem a realidade.
Medo, seu grande impostor!
Tenho pra mim que não existes. Só te fundamentas em negação, jamais em verdade. Moras no avesso do Amor porque, em verdade, és apenas a ausência dele.

Congresso Internacional do Medo
"Provisoriamente, não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços; não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas; cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas; cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte; depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas."
Carlos Drummond de Andrade.
Parece que até o poeta concorda comigo. O medo é o contrário do amor. Pós congresso de Drummond, eis aqui algumas pistas valiosas do Impostor, a delação (não) premiada dessas flores amarelas e medrosas:
- ele mora no avesso do amor;
- revela-se depois de uma negação;
- agiganta-se na solidão;
- desaparece pós-delação;
- alimenta-se da escuridão.
Eu sei que você também sente medo, tal privilégio não me pertence, afinal. Jamais lute contra a escuridão, isso a torna maior. Submeta-se para superá-la. E lembre-se:
Acenda a luz.
Basta uma faísca, e o Medo vai embora.
Basta uma faísca, e o Amor inflama, prevalece, e permanece, porque real é.
Até sempre,
Susan Duarte
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p.s: Adágio para cordas, de Samuel.
REFERÊNCIAS
Obra O grito. https://amzn.to/3gDXVux
Obra Girassóis de Van Gogh. https://amzn.to/3ffGBf3
Uma biografia da Depressão. Dunker. https://amzn.to/3W4mCk2
O demônio do Meio-Dia, Solomon. https://amzn.to/3Fkh2V1
O retorno do recalcado, Conceito de Freud.
Sombra inconsciente, Conceito de Carl Jung.
O inconsciente explicado ao meu neto. Élisabeth Roudinesco. https://amzn.to/3D904WJ
O efeito sombra. Deepak, Ford e Williamson. https://amzn.to/3DepT7O
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