Já tive muitos lugares.
Meu lugar era um livro.
Meu lugar era a banqueta do piano.
Meu lugar era uma sapatilha de ballet e um tutu.
Meu lugar era o litoral, a praia onde nasci.
Eles pertenciam a mim, eu pertencia a eles.
Para cada lugar, diferentes níveis de fios, tramas e linhas regulavam o pertencimento. Mas nenhum pertencimento externo, biográfico, preenche a categoria do pertencimento visceral.
Meu lugar é a escrita.
Minhas palavras são meu lar. Construo uma casa, uma imagem, um cenário, um parágrafo, quem sabe até, um verso. Uso de guarda-chuva um poema, de casaco um clássico da literatura, e reservo à touca e ao cachecol uma obra de arte - melhor abrigo no inverno não há. E em todas as suas expressões, a substância essencial da escrita se edifica no meu lar.
Foi Monteiro Lobato que falou sobre livros, escrita e castelo, dizendo que quem escreve um livro cria um castelo; quem lê mora nele.
Eu já criei e morei em um castelo. Minha habitação permanente é o castelo da escrita, lugar de viver e de criar, até mesmo quando não escrevo uma só palavra sequer.
Eu sou uma mulher que escreve, que ri e corre livre na direção do horizonte. Pois é lá, no horizonte, que eu me encontro com as palavras.
Coleto-as.
Coleciono.
Guardo.
Transformo, cada preciosa palavra que me é confiada pela anima mundi.
Minha liberdade é expressa na escrita - porque a escrita é a própria expressão de quem eu sou. Eu habito nas palavras. Porque elas são o meu lar e o meu lugar.
Meu destino não é mais um lugar, mas uma nova maneira de ver. Marcel Proust
Do meu destino, só a Tecelã é quem realmente sabe. Saber mesmo eu não sei, mas desconfio que ele passe pela escrita, perpasse por um alinhavo de palavras, até que desenhe, em sua trama, um castelo.
Até sempre,
Susan
Creator
Artesania da Palavra | Diamantes de Consciência refletindo o espírito da época.
Susan Duarte©Copyright 2025.
Commentaires