Sofrer é humano.
Cultuar o sofrimento, porém, é desrespeitar a própria humanidade.
Nosso tempo, parece-me, sinuosamente, entoar um canto declarado ao sofrimento, não do tipo isolado com começo, meio e fim, mas aquele de gênero estendido, avesso à resolução, um tanto habitué. Guerreiro ou guerreira tornou-se uma espécie de famigerado codinome, um título ostentado orgulhosamente por quem sofre.
O modus operandi contemporâneo é sofrendo, em gerúndio, sempre.
Ainda que a hashtag sofrência seja disfarçada de humor, o fake smile é incapaz de solapar o espírito de amargura que permeia os mais variados tweets e comentários das redes sociais.
Eu não cultuo a dor. Nem de brincadeira.
Quando olhei para o abismo, acredite, ele me olhou de volta - e não pretendia me fortalecer: tencionava me engolir, suprimindo a vida, destruindo os ossos.
Salve Zaratustra!
Eu não me vi mais forte quando sofri. Sofrimento não fortalece. Pelo contrário, a depender do espírito de quem sofre, pode até destruí-lo.

Sofrimento machuca, não fortalece.
Sofrimento aliena, não liberta. Sofrimento enfraquece, não ensina.
Não flerte com o abismo.
A dor ensina a gemer, e somente, a gemer. Não espere dela nada além disso.
Entorpecidos pela dor, nossa percepção fissura, nossa lucidez emudece, não havendo ali nenhum contexto propício ao aprendizado.
"Antes de dormirmos
a mãe vinha esticar os lençóis
que era um modo
de beijar o nosso sono.
Meu anjo, não durmas triste, pedia.
E eu não sabia
se era comigo que ela falava.
A tristeza, dizia,
é uma doença envergonhada.
Não aprendas a gostar dessa doença."
Neste espírito da época tão contraditório, (quase) todos nós agimos como pseudo-hedonistas que, em verdade, são partidários da sofrência; pregadores da liberdade apaixonados por suas próprias correntes. Seria cômico se já não fosse trágico.
Faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar.
A vida não deve ser suportada. O sofrimento até pode ter sido normalizado, mas a dor não é, e jamais será, o nosso estado natural.
Busque ajuda, se precisar. Procure olhar para a dor pela ótica da sua lucidez, de modo a não ser entorpecido por ela. Não se acostume a suportar a vida - nós merecemos mais do que isso.
O que nos fortalece é buscar melhorar, justamente para não mais sofrer. Quanto a mim, não pretendo ser guerreira.
Almejo apenas ser humana.
Meu modus operandi: respeitando, sempre, a minha própria humanidade.
Até sempre,
Susan Duarte
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POOL DE REFERÊNCIAS
Assim falou Zaratustra, F. Nietzsche https://amzn.to/3LoHrAf
Trecho do poema Mudança de idade, do poeta moçambicano Mia Couto. https://amzn.to/3LCi1zq
Faz escuro mas eu canto, poeta brasileiro Thiago de Mello. https://amzn.to/3MwzbzA
Obra Cacto Solitário de Graham Gercken.
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