top of page

Ode ao sofrimento

Foto do escritor: Susan DuarteSusan Duarte

Atualizado: 15 de fev. de 2023

Sofrer é humano.

Cultuar o sofrimento, porém, é desrespeitar a própria humanidade.


Nosso tempo, parece-me, sinuosamente, entoar um canto declarado ao sofrimento, não do tipo isolado com começo, meio e fim, mas aquele de gênero estendido, avesso à resolução, um tanto habitué. Guerreiro ou guerreira tornou-se uma espécie de famigerado codinome, um título ostentado orgulhosamente por quem sofre.

O modus operandi contemporâneo é sofrendo, em gerúndio, sempre.

Ainda que a hashtag sofrência seja disfarçada de humor, o fake smile é incapaz de solapar o espírito de amargura que permeia os mais variados tweets e comentários das redes sociais.


Eu não cultuo a dor. Nem de brincadeira.

Quando olhei para o abismo, acredite, ele me olhou de volta - e não pretendia me fortalecer: tencionava me engolir, suprimindo a vida, destruindo os ossos.

Salve Zaratustra!

Eu não me vi mais forte quando sofri. Sofrimento não fortalece. Pelo contrário, a depender do espírito de quem sofre, pode até destruí-lo.
Cacto solitário. Graham Gercken, 2014.
Cacto solitário. Graham Gercken, 2014.

Sofrimento machuca, não fortalece.

Sofrimento aliena, não liberta. Sofrimento enfraquece, não ensina.


Não flerte com o abismo.


A dor ensina a gemer, e somente, a gemer. Não espere dela nada além disso.

Entorpecidos pela dor, nossa percepção fissura, nossa lucidez emudece, não havendo ali nenhum contexto propício ao aprendizado.

"Antes de dormirmos

a mãe vinha esticar os lençóis

que era um modo

de beijar o nosso sono.

Meu anjo, não durmas triste, pedia.

E eu não sabia

se era comigo que ela falava.

A tristeza, dizia,

é uma doença envergonhada.

Não aprendas a gostar dessa doença."

Neste espírito da época tão contraditório, (quase) todos nós agimos como pseudo-hedonistas que, em verdade, são partidários da sofrência; pregadores da liberdade apaixonados por suas próprias correntes. Seria cômico se já não fosse trágico.

Faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar.

A vida não deve ser suportada. O sofrimento até pode ter sido normalizado, mas a dor não é, e jamais será, o nosso estado natural.


Busque ajuda, se precisar. Procure olhar para a dor pela ótica da sua lucidez, de modo a não ser entorpecido por ela. Não se acostume a suportar a vida - nós merecemos mais do que isso.


O que nos fortalece é buscar melhorar, justamente para não mais sofrer. Quanto a mim, não pretendo ser guerreira.

Almejo apenas ser humana.

Meu modus operandi: respeitando, sempre, a minha própria humanidade.

Até sempre,

Susan Duarte

Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.

©Copyright 2022 Zeitgeist iD.

 

POOL DE REFERÊNCIAS

  1. Assim falou Zaratustra, F. Nietzsche https://amzn.to/3LoHrAf

  2. Trecho do poema Mudança de idade, do poeta moçambicano Mia Couto. https://amzn.to/3LCi1zq

  3. Faz escuro mas eu canto, poeta brasileiro Thiago de Mello. https://amzn.to/3MwzbzA

  4. Obra Cacto Solitário de Graham Gercken.

 

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page