Oi, PrimaVera. Ela gira e girou.
No hemisfério sul, a Primavera chegou ontem. No Rio Grande do Sul, bem, só chegou hoje, delay de um dia, enquanto o Inverno birrento teimava em se despedir, retardando a chegada triunfal da prima mais esperada do ano. Ao abrir a janela pela manhã, constatei que a briga acabou e a ordem se restabeleceu: céu azul anil, de brigadeiro, com previsão de bom tempo e passarinhos.
Num dia assim, até Branca de Neve sairia rodopiando por aí.
Quando pequena, apresentei uma tendência natural ao neologismo. Sem um pouco de limite e educação, era capaz de ter criado meu próprio dialeto. Obrigada, mãe! Não inventei meu idioma, mas sigo apaixonada pela etimologia das palavras. Conhecer a origem de uma palavra, em seu histórico, semântica, sentido, é um outro jeito de conhecer a vida e, por sua vez, a natureza humana.
Por conta disso, lá fui eu atrás da etimologia da palavra Equinócio, do latim aequinoctium, que significa noites iguais, uma vez que o dia e a noite tem a mesma duração. Primavera, por sua vez, significa primo vere, a chegada do primeiro verão. Logo, somando um mais um, temos o Equinócio de Primavera.
As estações nos ensinam sobre os ciclos da vida. Não é preciso de muita ciência. Basta observar e perceber a natureza e já sabemos, no ato, como guiar a nossa. Particularmente, meu inverno foi longo e intenso, repleto de metamorfoses e transformações. No meio dele, descobri muitas coisas. E isso sempre me faz lembrar de Camus e seu verão invencível.
"No meio do ódio, descobri que havia, dentro de mim, um amor invencível. No meio das lágrimas, descobri que havia, dentro de mim, um sorriso invencível. No meio do caos, descobri que havia, dentro de mim, uma calma invencível. E, finalmente descobri, no meio de um inverno, que havia dentro de mim, um verão invencível. E isso faz-me feliz. Porque isso diz-me que não importa a força com que o mundo se atira contra mim, pois dentro de mim, há algo mais forte - algo melhor, empurrando de volta."
Nas 4 estações de Vivaldi, é fácil perceber que a cadência da vida - mesmo que encoberta pela poeira do costume e distração da rotina -, sabe sempre manter o seu ritmo: arrefecer no inverno, florescer na primavera, flanar pela existência no verão, recolher no outono. E a valsa continua.
Não houve quem melhor retratasse a prima do que Claude Monet. Caso tenha vivido até aqui sem conhecer os seus jardins, por favor, não se prive mais nenhum segundo do maravilhamento que emana de suas obras.

O céu de primavera é diferente. Bem Graciliana, comovo-me em excesso, por natureza e por ofício, com o céu. Ele não só me encanta por sua beleza, bem como me dá perspectiva. Uma nova estação se inicia e nos anuncia:
É tempo de florescer para novas perspectivas.
A premissa de florescer é semear. Escolhi a dedo a minha semente e cuidarei de sua semeadura e cultivo com todo zelo, enquanto canto com os passarinhos por aí. Para a escolha da sua semente, só há uma ressalva: determine-a, mesmo, de modo específico, intencional, atrevido. O pai de Riobaldo estava certo - o que a gente não nomeia nem existe.
Entrou setembro e a boa nova já anda nos campos. É tempo de florescer, também de revisar. Perceber o que foi feito, realinhar objetivos, priorizar e, sim, fazer alguns cortes - é melhor dobrar do que romper, afinal. Abandonei o muro das lamentações já faz um bom tempo. Rompi minha veia fadista de portuguesa: corto, recorto, edito, amputo, sem dó. Feito Cecília, aprendi com as primaveras a deixar-me cortar, e a voltar sempre inteira. Neste vira-virou que é viver, se Neruda disse nem é dizer, é decreto: podem cortar todas as flores, mas não podem deter a primavera.
Pra essa nova estação, quero curtir o seu florescer (e o meu) com leveza e presença consciente, superando o espaço-tempo, vivenciando o aqui-agora - é só e tudo o que temos. Por ora, só quero ver o passaredo pelo portos de Lisboa, caminhando e cantando, seguindo a canção.
Prima, seja bem vinda.
Parafraseando Beto Guedes, que o teu sol primaveril abra as janelas do meu peito.
Tuas lições, já sei de cor - só me resta aprender.
Até sempre,
Susan Duarte
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p.s.: Das 4 estações de Vivaldi, a Vera é a minha favorita.
REFERÊNCIAS
Canção Primavera (vai chuva) de Tim Maia.
Citação de Albert Camus.
Livro O estrangeiro de Camus. https://amzn.to/3dIfKHJ
Livro O mito de Sísifo, Camus. https://amzn.to/3dIfKHJ
Concerto As 4 estações de Vivaldi.
Claude Monet, Tempo de Primavera. https://amzn.to/3C7lwfm
Graciliano Ramos. Citação "Comovo-me em excesso".
Guimarães Rosa. Citação "nomeia".
Canção Sol de primavera, Beto Guedes.
Cecília Meireles. Citação "aprendi com as primaveras".
Pablo Neruda. Citação "podem cortar".
Canção Vira-virou, Kleiton Ramil.
Canção "Pra não dizer que não falei das flores", Geraldo Vandré.
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