Vicissitudes.
Adoro essa palavra em seu aspecto fonético. Minha adoração, porém, se encerra em sua componente prática.
As vicissitudes da vida são diversas. É um jeito bonito de dizer que o tempo fechou, o caos se instalou, e há nuvens de tempestade no horizonte.
Quando tudo parece estar certo, o caminho traçado, o caminhar tranquilo, ritmado, eis que há uma pedra - uma pedra que podia ser ponte, poesia, tropeço, até o David de Michelangelo, mas escolheu ser tombo, cuja queda fez perder a hora, o tempo, o avião, o amor.

Será possível perder um amor? Acho que não.
Amor quando é amor não se curva a particípio nenhum - regular, duplo abundante, irregular. Amor quando é amor apenas é. É o único verbo inconjugável no passado. Pois se foi amor, se eu amei, significa que não era, e que eu, nem sequer amava. Amor quando é amor é conjugado no presente do indicativo: se amo, amo em primeira pessoa, amo sempre. Shakespeare parece reiterar minha afirmação: "O amor só é amor se não se dobra a obstáculos e não se curva a vicissitudes. É uma marca eterna que sofre tempestades, sem nunca se abalar".
Desde criança, não importava o quão triste eu ficasse, eu tinha em meu piano um refúgio. Depois de mulher, adulta, troquei as teclas brancas pelas canetas, as partituras de Debussy pela costura das minhas palavras.
Hoje, ao tropeçar, fracassar, atrasar, estilhaçar em tantos e infinitos pedaços um coração que parecia pequeno, eu sempre perco tudo, perco todos, mas há algo que fica - a escrita. Esse casamento é invariavelmente meu, inscrito na alma está, guardado pelo coração permanecerá. Ela é meu dom, meu refúgio, meu início, meio e fim, meu trabalho. Minha melhor parte justamente por ser minha.
Porque todos vão embora. As pessoas, as situações, os amores, os aviões, as famílias, os sonhos. Mas ela, a escrita, fica, porque a mim pertence.
Pequena dica profilática: tenha algo na vida de genuinamente seu. Todo o resto é barulho, vaidade, vento e, um dia, vai embora.
Até sempre,
Susan Duarte
Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.
©Copyright 2023 Zeitgeist iD.
Comments